Nos últimos anos, tem crescido o debate sobre a importância de ampliar o olhar sobre a saúde do homem, indo além de ações pontuais como a detecção precoce do câncer de próstata. Com base na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), profissionais e gestores vêm discutindo estratégias que valorizem o cuidado integral, contínuo e centrado na pessoa.
Nesse contexto, destaca-se a atuação da fisioterapia na saúde do homem, com foco especial no tratamento das disfunções do trato urinário inferior e do assoalho pélvico. Essas disfunções, que incluem incontinência urinária, disfunção erétil, dor pélvica crônica, alterações miccionais e sequelas de cirurgias prostáticas, afetam significativamente a qualidade de vida e, muitas vezes, são silenciadas por vergonha, desinformação ou estigma.
Evidência científica e prática clínica: um diálogo necessário
Estudos recentes reforçam a eficácia de abordagens fisioterapêuticas baseadas em evidência, como o treinamento da musculatura do assoalho pélvico com recursos como o biofeedback. Essas intervenções mostram resultados positivos na recuperação da continência urinária após prostatectomia e na melhora da função sexual masculina.
Porém, a incorporação dessas práticas à rotina clínica ainda enfrenta desafios, como a falta de informação acessível, barreiras culturais e a ausência de políticas públicas que valorizem o cuidado interdisciplinar. Nesse sentido, torna-se fundamental oferecer informações de qualidade, livres de conflito de interesse, para que os homens possam tomar decisões sobre sua saúde de forma alinhada com seus valores, expectativas e compreensão dos riscos e benefícios envolvidos.
Novembro Azul: educação em saúde para além do PSA
A Nota Técnica nº 9/2023 do Ministério da Saúde e do INCA aponta com clareza que o foco das campanhas de Novembro Azul deve ser a promoção de saúde e o fortalecimento da atenção primária, e não o estímulo ao rastreamento indiscriminado do câncer de próstata. O documento reforça que decisões sobre exames devem ser compartilhadas entre profissional e paciente, com base em evidências atualizadas e sem influência de interesses comerciais.
Ao respeitar esse princípio, a atuação da fisioterapia na saúde do homem se mostra coerente com as diretrizes nacionais: promove autonomia, favorece o autocuidado e contribui para a construção de um modelo de atenção que valoriza o sujeito em sua integralidade.
Crescimento e reconhecimento
A atuação da fisioterapia no tratamento das disfunções do trato urinário inferior e do assoalho pélvico não se limita à reabilitação física. Envolve escuta qualificada, orientação educativa, acolhimento das queixas e construção de estratégias personalizadas para cada homem. Esse trabalho impacta diretamente a autoestima, a vida sexual, o bem-estar psicológico e a reinserção social.
A fisioterapia na saúde do homem deixou de ser nicho para se tornar campo de atuação consolidado. Cresce o número de pesquisas científicas, profissionais capacitados e centros especializados que reconhecem o papel fundamental do fisioterapeuta na reabilitação funcional e no suporte emocional de homens acometidos por condições que afetam profundamente sua identidade, autoestima e vida sexual.
Tratar a incontinência ou a disfunção erétil não é apenas recuperar a função fisiológica: é devolver autonomia, dignidade e qualidade de vida. E isso só é possível quando a ciência se alia ao cuidado humanizado e quando o profissional de saúde atua com base em dados, mas também com empatia.
É cada vez mais evidente que a saúde do homem deve ser pensada para além da próstata. E que a fisioterapia, quando baseada em evidência e aliada ao compromisso ético com a informação de qualidade, é peça-chave nessa transformação.
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