A obesidade deixou de ser vista apenas como excesso de calorias ou falta de disciplina. Hoje, é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença crônica, progressiva e de base neurobiológica — e os números não param de crescer. No Brasil, o cenário é preocupante: dados do Vigitel 2023 mostram que 24,3% da população adulta já vive com obesidade, o dobro do registrado em 2006. Somando sobrepeso e obesidade, mais de 60% dos brasileiros apresentam algum grau de excesso de peso. Entre crianças de até cinco anos, o ENANI-2019 revelou que 7% estão acima do peso e 3% já são obesas. No mundo, a situação também avança em ritmo acelerado. Segundo a OMS e estudo publicado na revista The Lancet, mais de 1 bilhão de pessoas já vivem com obesidade, sendo 890 milhões de adultos. O número de jovens entre 5 e 19 anos com obesidade quadruplicou desde 1990 e, atualmente, um em cada oito indivíduos no planeta convive com a doença.
Mas afinal, por que tantos especialistas afirmam que a obesidade começa no cérebro? O cérebro é o maestro do controle do peso, e três áreas principais estão envolvidas nesse processo: o sistema límbico, que gera prazer ao comer; o núcleo do trato solitário, que regula o ritmo das refeições; e o hipotálamo, que integra sinais de fome e saciedade. O problema é que, diante de dietas ricas em gorduras e ultraprocessados, ocorre uma inflamação no hipotálamo, ativando células de defesa que danificam os neurônios responsáveis por controlar a saciedade. Esse processo gera a chamada resistência à leptina, hormônio que deveria avisar ao cérebro que já há energia suficiente armazenada. Assim, mesmo com reservas abundantes, o corpo continua “programado” a buscar comida.
Estudos de imagem mostram ainda que os circuitos de recompensa, ligados à dopamina, ficam menos responsivos em pessoas obesas. Pior: essa alteração persiste mesmo após a perda de peso, o que ajuda a explicar o famoso “efeito sanfona” e a dificuldade em manter resultados a longo prazo. Especialistas destacam que compreender a obesidade como uma doença cerebral e inflamatória sistêmica muda a forma de tratar o paciente: com mais ciência e menos julgamento.
Hoje, terapias modernas como os agonistas de GLP-1, a chamada “canetinha da obesidade”, já mostram impacto positivo ao atuar diretamente nos centros de saciedade do cérebro. Pesquisas em andamento exploram ainda o potencial da neuromodulação não invasiva, capaz de modular circuitos neurais e reduzir a inflamação central.
A mensagem é clara: a obesidade não é fraqueza de caráter, mas uma doença complexa que exige tratamento multidisciplinar, compassivo e baseado em evidências científicas.





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